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Agressão à transexual confirma o triste retrato da intolerância

O Distrito Federal lidera o ranking de denúncias de violência à comunidade LGBT na média por habitante desde 2014. Os dados são do Disque 100 — ouvidoria nacional. A estudante Jéssica Oliveira, 28 anos, sentiu na pele e carrega as marcas do preconceito: ela foi agredida a poucos metros de casa, na QNJ de Taguatinga.
Era madrugada do domingo de Páscoa quando a transexual voltava para a residência. Ao ser surpreendida por quatro homens, inicialmente ela pensou se tratar de mais um assalto, mas depois percebeu que eram agressões por conta da identidade de gênero. “Pegaram minha bolsa, mas depois devolveram. Não levaram nada”, conta.
Para se defender dos chutes, socos e pauladas, ela correu para um comércio que fica na Hélio Prates. Ainda assim, os homens continuaram a agredi-la. “Gritavam que era para eu virar homem. Pensei que iria morrer e seria mais uma Dandara (travesti que foi morta após ser espancada). Gritava por socorro, mas sabia que não podia reagir, senão iria apanhar ainda mais”, lembra.
Jéssica obteve as imagens do circuito interno do comércio em que tentou se abrigar. No vídeo, é possível ver dois homens se aproximando da transexual e dando chutes. Depois, um deles pega uma cadeira da lanchonete para bater nela. “Apanhei muito. Sentia meus reflexos diminuindo. Eles me bateram por uns cinco minutos, e sempre tentando acertar minha cabeça”, afirma.
Este não foi o primeiro episódio de violência que a estudante passou. Só na própria residência, ela acumula outros três registros por injúria e discriminação. “Fora os que não registrei boletim de ocorrência. Somos uma comunidade que sofre diariamente, até dentro de casa. Tenho medo de nunca dar em nada, porque vão ver que não dá resultado e vão continuar a bater, a xingar”, lamenta. Agora, ainda se recuperando dos machucados e com hematomas pelo corpo, a estudante diz querer justiça.
“Não saio de casa há dias porque estou estudando para concursos, já que o mercado de trabalho para mim é complicado. E quando saio acontece isso”, comenta. “Quando tudo isso passar, quero jogar todos esses papéis fora. Acredito muito em energia e acho que esses boletins de ocorrência estão atraindo negatividade”, completa.
A força para superar as agressões físicas e verbais vem dos estudos e da esperança de um futuro melhor. “Eu sei que mais coisas podem acontecer comigo. Mas, espero que, daqui um tempo, nós, trans, possamos andar na rua sem medo. Já me sinto representada por algumas mulheres trans, então é enfrentar e não ter medo. Vou focar nos meus estudos para conseguir realizar meus sonhos”, finaliza.
Na Polícia Civil, o caso, registrado na 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro), é tratado como tentativa de roubo a transeunte. Até o momento, os agressores não foram identificados e o crime é investigado na 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte).
Só em 2017, no Disque 100, houve uma média de 1,21 denúncia a cada cem mil habitantes do DF. A maioria é referente a violência psicológica (41%) e discriminação (40%). Foram seis agressões, num universo de 62 reclamações pelo telefone. A Secretaria de Segurança, no entanto, não faz o recorte de crimes por identidade e orientação sexual.
Números preocupantes
A cada 48 horas, uma pessoa trans é assassinada no Brasil, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Em 2017, houve 179 mortes. A idade média das vítimas é de 27 anos e os crimes são cometidos por armas de fogo (52%), arma branca (18%) e por espancamento, asfixia e/ou estrangulamento (17%). No DF foram duas mortes no ano passado.
Em outubro passado, a Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) divulgou a primeira pesquisa sobre a população LGBT. As informações oficiais apontaram que ainda pouco se sabe sobre esse grupo, pois os dados são falhos. Apenas duas fontes embasaram a pesquisa: o Disque 100 e a Polícia Civil. De 2011 a 2016, o DF registrou 436 denúncias de violência pelo Disque 100. Dados da PCDF apontaram 408 ocorrências de 2015 a 2016.
Ponto de Vista
Apesar dos poucos dados – e os que existem estarem sempre ligados a violência -, a ativista trans e assessora da Coordenação de Diversidade LGBT do DF, Paula Bennet, acredita que nos últimos anos a comunidade tem alcançado uma reparação histórica de direitos. “Antigamente não se respeitava nossa identidade de gênero. Agora temos um ambulatório para nos atender, tem a Decrin (Delegacia Especial De Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual), conquistamos o uso do nome social. Com esses direitos, no ano que vem passaremos a ter mais dados específicos”, espera.
Ela ainda dá uma orientação: “Jéssica foi agredida depois de ter reagido a um assalto. Quando notaram que ela era trans, começaram a bater ainda mais. Não podemos reagir aos assaltos e, principalmente, em qualquer agressão que houver, deve-se procurar de preferência a Decrin. É a delegacia especializada em receber pessoas LGBT”.
fonte: jornal de Brasília 
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