Em 2014, junto com as sobras de alimentos descartados no
lixo, Walisson buscava forças para seguir estudando. "Sempre acreditei que
conseguiria vencer", diz. Cinco anos depois, o sonho da formatura está
prestes a se concretizar.
A cerimônia será no fim
de março, com direito a festa totalmente paga pela empresa de eventos, que
conheceu e se comoveu com a história do jovem.
Para se preparar para
"o grande dia", Walisson criou uma vaquinha
online para arrecadar fundos para um tratamento dentário e,
ainda, conseguir recursos para se manter, já que está desempregado.
"Estraguei meus
dentes com essa vida nas ruas e, hoje, um grupo de amigos se juntou para pagar
meu aluguel", conta. Com as despesas mensais entre alimentação, transporte
e aluguel, Walisson paga cerca de R$ 750.
A vida nas ruas
Aos 18 anos, Walisson conta que
foi obrigado pelo pai a abandonar os estudos ainda no nono ano do ensino
fundamental. Uma série de violências físicas sofridos neste período também o
motivaram a fugir de casa e a viver nas ruas.
Durante esse período, em 2003, o
jovem diz ter sido vítima de outros tipos de violência fora de casa e, a cada
instante, pensava "se seria o próximo a morrer", lembra.
"Vi
várias pessoas morrendo na minha frente. A rodoviária é um lugar triste, e só
sabe disso quem viveu".
Os capítulos dessa trajetória
começaram a ganhar um novo rumo quando o jovem foi ajudado por um homem que o
encontrou em uma parada de ônibus, na 904 Sul. Ao perceber a vontade dele em
voltar a estudar, o rapaz ofereceu um comprovante de residência para que
Walisson se matriculasse em uma escola pública e concluísse os estudos.
Depois disso, ainda nas ruas, a
mente desse morador do DF nunca mais parou de buscar novos conhecimentos.
"Eu ia sujo para sala de aula, passava a noite toda acordado pedindo
esmola, acordava com sol quente no rosto, era uma saga triste", lembra.
"Me
emociona lembrar o quanto eu queria sair das ruas. Eu sabia que os estudos eram
a única forma de eu sair daquele lugar."
Do Enem à
universidade
Já em 2010, Walisson concluiu o
ensino básico no Centro de Ensino 123, em Samambaia. Em seguida, uma nova saga
começou, dessa vez, para uma aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem).
Com foco nos estudos, ele buscava
refúgio em bibliotecas da capital. As horas dedicadas aos livros resultaram na
aprovação em uma faculdade particular um depois, com 100% de financiamento no
valor da mensalidade.
Entre os colegas, Walisson
escondeu por um bom tempo a condição de morador de rua. "Eu tinha medo de
descobrirem minha história, sentia vergonha, e dizia que estava sujo porque
vinha do trabalho", lembra.
"Mantive
em sigilo para que não soubessem da minha condição, mas eu tinha certeza que ia
conseguir vencer."
Uma nova casa
Dedicado, já no segundo ano do
curso de direito, em 2016, Walisson conseguiu um estágio e, com o salário,
conseguiu pagar um aluguel em Samambaia. Dos R$ 800 da bolsa, R$ 700 ficavam
comprometidos todos os meses com as despesas da casa.
"Tinha
um desempenho bom, os estudos eram meu foco, a minha única forma de sair da
rodoviária, não tinha outro caminho."
Com todos os esforços, Walisson
conseguiu concluir o curso e, em dezembro do ano passado, se tornou bacharel em
direito. Formado, mas ainda desempregado, ele sonha em conseguir um emprego
para se manter. Por enquanto, o jovem conta com doações de amigos.
A escolha do
direito
Em meio a tantas opções de
cursos, Walisson escolheu o direito na tentativa de ajudar outras pessoas que,
assim como ele, "tiveram o acesso negado à educação, à justiça e a todos
os direitos básicos", diz.
"Escolhi
o direito porque vi tantas injustiças acontecerem no coração da capital do
país, tantos direitos sendo violados, e quis ajudar as pessoas a mudarem de
vida."
"Conhecimento é poder, e quem tem conhecimento não
aceita qualquer coisa na vida como opção", afirma Walisson, orgulhoso de
si. Para ele, o próximo passo, agora, é se tornar um advogado e, futuramente,
atuar na Defensoria Pública.
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