Abandono e descaso. Essa é a situação do Parque Ecológico Gatumé, criado há dez anos e situado entre as quadras 425 e 427 da Expansão de Samambaia. Moradores e comerciantes reclamam da falta de preservação e solicitam que o parque seja, de fato, efetivado. Eles apontam, ainda, o contraste com as ações do governo em torno da orla do Lago Paranoá. Mas o objetivo do Executivo é, na verdade, evitar que a área seja frequentada para conservá-la.
O aposentado Osmar José Barbosa, 73, mora no local há 30 anos. Ele conta que melhorias prometidas nunca foram cumpridas. Para Osmar, quem passa por ali desconhece a riqueza do parque.
“O local é lindo e as nascentes, cristalinas. O problema é que está mal cuidado e descampado. Não tem cercas, está cheio de entulho, sem contar que bandidos se escondem no meio do mato. Também é local para desova de carros roubados e já perdi as contas de quantos corpos foram encontrados. É realmente perigoso. Não dá mais para esperar. Algo tem de ser feito com urgência”, ressalta.
Até a placa que sinaliza a existência do parque foi feita pelos moradores. A luta é para que a área tenha administração e manutenção frequentes. Além disso, pedem policiamento e sugerem a instalação de uma feira rural.
Nascentes
Para o estudante Jordano Junior da Silva, 21 anos, se nada for feito, o pior deve acontecer. “Acho que a nascente pode chegar ao fim por causa das queimadas e da falta de manutenção. Das três, duas já secaram. Mas o meu sonho é ver esse parque transformado. Poderiam utilizar uma área para pista de cooper, um parquinho para as crianças ou mesmo uma academia pública. As opções são diversas. O que falta é iniciativa do governo”, diz.
O morador Edvaldo Ferreira lembra de outra reclamação antiga: criação de um aterro sanitário próximo às nascentes. “Há anos, lutamos para que esse lixão não fosse efetivado, mas está em fase de implementação. Queremos, ao menos, que revitalizem e conservem o parque, plantem árvores, coloquem bancos e nos ofereçam um espaço coletivo de convivência”, conclui.
O lugar também é alvo de invasões. No último dia 27, a Agência de Fiscalização (Agefis) derrubou barracos na área de preservação ambiental. Porém, o JBr. flagrou as irregularidades sendo retomadas.
Governo pretende fechar área
Responsável pela área, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) informou que não há obra em andamento em nenhum dos 73 parques administrados pelo órgão. Todos estão passando por um processo de recategorização para que sejam adequados à lei que institui o Sistema Distrital de Unidades de Conservação da Natureza. O Ibram esclareceu que essa recategorização – um realinhamento dos parques conforme seus recursos ambientais e/ou de lazer -, será a base para o planejamento de ações futuras.
Quanto ao Parque Gatumé, a proposta do governo é de que ele seja fechado e não permita visitação, tampouco tenha infraestrutura que incentive isso, “porque possui atributos ambientais sensíveis como nascentes, veredas e área de proteção permanente de córregos”, explica o instituto.
“Tendo em vista a importância da área para a conservação das nascentes e da vereda, além de ser um abrigo para a fauna nativa, o parque será recategorizado para Refúgio de Vida Silvestre Gatumé”, completa. Mas tudo isso ainda depende da aprovação de deputados distritais.
Definições
Em setembro, terminou a consulta pública (prevista na lei), na qual a população opinou sobre as necessidades dos parques. As cerca de 90 contribuições recebidas estão sendo compiladas e serão transformadas em um projeto de lei a ser levado à Câmara Legislativa. A previsão era de que o envio ocorresse até outubro, mas, devido à greve dos servidores do órgão, a perspectiva agora é para o fim do ano.
“Este projeto é que definirá o que será feito, como e quando em cada parque a ser contemplado com os recursos de compensação ambiental”, esclarece o órgão, que continua: “Só depois de terminar este processo é que serão definidos quais parques serão revitalizados e quais novos serão instalados”.
Segundo o Ibram, isso ocorre porque não há verba pública para a instalação ou revitalização dos parques. Essas ações são feitas por meio de compensação ambiental.
Saiba mais
O Parque Gatumé foi criado por um decreto em 2005 com o intuito de preservar as nascentes do córrego Gatumé. É uma área de proteção ambiental com 148.217 hectares.
Hoje, tem fragmentos de vegetação nativa de Cerrado conservada, processos erosivos severos e chácaras no interior.
Segundo o Ibram, apesar do estado de degradação, há vereda com extensão considerável e boa parte das áreas com grande potencial de regeneração natural. Além disso, é um componente da Área de Proteção Ambiental do Planalto Central.
0 comentários:
Postar um comentário