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Como o Supletivo pode mudar sua vida em Samambaia


IFI EDUCAÇÃO“Depois de 27 anos, voltei a estudar”, conta Sandra Rossi. Ela abandonou a escola aos 13 anos para se dedicar ao esporte. Há 8 anos, ela conseguiu concluir o Ensino Médio. Mas até os anos 2000, Sandra ainda era parte da estatística que, pelos números mais recentes, aponta para um total de 3,6 milhões de estudantes matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil. Os dados do Censo Escolar 2017 mostram que embora o Ensino Fundamental apresente uma tendência de estabilização, as matrículas do Médio cresceram em 3,5% no ano passado. “São os jovens que estão ampliando esse número. Na cidade de São Paulo, por exemplo, 50% das matrículas são de jovens de 15 a 19 anos”, analisa Roberto Catelli, coordenador-executivo da Ação Educativa e da unidade de EJA da instituição.

Para o Ministério da Educação (MEC), os números refletem a taxa de insucesso dos anos finais do Fundamental e Ensino Médio. Do total de matriculados na EJA, 2,17 milhões tentam completar o Ensino Fundamental, enquanto 1,42 milhão estão em busca do diploma do Ensino Médio. “Há um analfabetismo jovem. É inaceitável que pessoas nascidas no final da década de 1990, que tiveram oportunidade de acesso à Educação, componham esse percentual tão alto”, disse Maria Helena Guimarães, secretária-executiva do MEC, na cerimônia de divulgação dos dados do Censo Escolar deste ano. Pelo levantamento, a região que mais concentra alunos nessa modalidade é o Nordeste, com 1,41 milhão. Diante dos dados, Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Censo, lamentou o perfil jovem dos alunos. “A EJA é uma ação compensatória, que tem recebido mais jovens que poderiam estar sendo atendidos pelo ensino regular”.

Até alguns anos, muitas das matrículas estavam associadas à falta de acesso à Educação Básica: distância entre casa e escola, dificuldade de transporte (principalmente em zonas rurais e periféricas), problemas domésticos e desdobramentos de casos de preconceito e bullying. “Na escola sofri muito preconceito com a minha cor. Tinha alunos que me chamavam de ‘macaca’. Aí cresceu uma uma revolta dentro de mim e fiquei dois anos sem ir para a escola”, relata Tamiris da Silva no documentário “Fora de Série” (2018), produzido pelo Observatório Jovem do Rio de Janeiro, associado ao Programa de Pós-Graduação da UFF, que conta as histórias e os desafios de alunos do Ensino Médio da EJA na rede pública do Rio de Janeiro.Com o agravamento da crise econômica, muitos jovens simplesmente tiveram de optar entre a subsistência da família e a escola. Um levantamento recente do Banco Mundial indica que jovens de 15 a 25 anos vivendo em lares afetados por quedas nos rendimentos têm 2,3% mais chances de abandonar os estudos. Entre os que têm 18 anos, o índice sobe para 4,5%. “O abandono prematuro dos jovens no final do Fundamental e no Médio ainda se dá muitas vezes por falta de condições familiares, sociais e necessidade de trabalho, mas também porque não há identificação do jovem em relação à escola”, afirma Roberto Catelli.Essa falta de identificação também atinge a EJA. Mesmo dentro da modalidade, a evasão de jovens ainda é grande. “Eles são os que mais entram e os que mais evadem”, explica Roberto. Para ele, um dos grandes desafios é pensar em um currículo e modelo que garanta essa permanência. “Existem poucos esforços em termos de políticas públicas que avancem sobre essas questões”.Apesar desse cenário, a EJA tem sido uma oportunidade de mudança de vida para os alunos que não tiveram acesso à escola no passado ou que deixaram essa oportunidade para trás. Essa é a história de Sandra, Riza e Tote, mas também de muitas outras pessoas que puderam transformar suas vidas através da Educação.
Largar é fácil, difícil é voltar a estudar Aos 13 anos, Sandra Rossi só tinha um objetivo para o futuro: jogar voleibol profissionalmente. “Eu não queria saber de escola, só de fazer esporte”, diz. Enquanto os pais pensavam que Sandra estava frequentando as aulas da antiga 8ª série (atual 9º ano), a menina treinava nos clubes. Um dia, eles descobriram. “Foram radicalmente contra, mas a resistência de voltar à escola era tão grande que acabei parando de estudar e comecei a trabalhar”.Riza Maria deixou a escola com 15 anos. Tote Gira, com 16. Ambos tiveram um percurso de idas e vindas pela escola até se engajarem nos estudos. Riza sofreu um acidente na adolescência e ficou impossibilitada de frequentar a escola por um longo período. “Fui reprovada e fiquei com vergonha de voltar a estudar depois disso”, conta. Aos 22, ela decidiu retomar os estudos, quando descobriu que estava grávida. Como se tratava de uma gravidez de risco, teve que se afastar novamente. O filho nasceu com problemas de saúde e ela não conseguiu conciliar as duas demandas. Aos 30, ao fazer a rematrícula do filho, a funcionária perguntou se ela não gostaria de retomar os estudos. “Eu me matriculei no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA) Campo Limpo, mas sem a intenção de estudar além da Educação Básica. Só queria concluir o Fundamental e fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tirar o certificado do Médio”.Tote Gira faz parte do grupo de alunos que trocou a sala de aula pela necessidade de ajudar financeiramente em casa. Aos 20, voltou pelo desejo de aprender. Dois anos depois, precisou abandonar os estudos novamente para auxiliar a família e criar seus filhos. Apenas 30 anos mais tarde conseguiu se formar no Centro Estadual de Educação Magalhães Neto, em Salvador (BA), onde estagia atualmente na área de Filosofia. Além de cursar licenciatura na disciplina a distância, ele faz licenciatura em Música na Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Voltei aos 52 e essa experiência me fez desejar continuar estudando até quando eu deixar de existir”, afirma.O mundo de oportunidades – melhores empregos, salários mais altos, melhores condições de vida, viagens pelo país e até ao exterior – se afunila à medida que diminui o nível de escolaridade. Se já é difícil encontrar um emprego com o Ensino Médio completo, imagine apenas com o Fundamental ou sem saber ler. “Senti bastante falta da escola na vida adulta”, afirma Riza. Ela sentiu dificuldade em montar um currículo e passar por entrevistas de emprego. “Quando perguntam seu grau de escolaridade e você não tem o Fundamental completo, já é uma chance a menos de entrar no mercado de trabalho”, desabafa. Para Sandra, com o fim da perspectiva de ser uma jogadora de vôlei profissional, o leque de opções disponíveis começou a gerar um incômodo. “Não estava contente em relação à minha situação. Eu só tinha subempregos pela falta da escola”, relata.
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