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Queda do viaduto: vidas foram salvas por um milagre

O olhar fixo para o viaduto que desabou no Eixão não escondia o alívio do vigia de carros José Ferreira do Nascimento, de 42 anos, que saiu do local para beber água minutos antes de tudo ir ao chão. O celular não parava de tocar. As ligações eram em busca de notícia do homem que trabalha no local há mais de 20 anos. “Estou bem. Foi só o susto”, dizia.
“Estava almoçando, por volta de 11h50. Aí, quando terminei de comer, me deu sede. Estava saindo quando ouvi o primeiro estalo. Pensei: ‘o que pode ser isso?’, mas continuei caminhando para ir ao Floresta. Aí veio o segundo estalo e segundos depois caiu tudo. Saí correndo, com medo de que algo pior acontecesse”, lembra o vigia.
Para Ferreira, a fatalidade foi prevista. “O governo sabia que estava comprometido. Anos atrás, vieram estudar, tiraram amostras, furaram o viaduto. Eles sabiam que a estrutura estava ruim”, aponta. “Eu podia ter morrido. Então, só consigo pensar que estou bem”, diz.
O prejuízo ficou para os donos dos carros esmagados. Dois ficaram totalmente danificados, um deles a Toyota Hillux do bancário Lindenberg Igor Silva, de 50 anos. “Estava almoçando em um restaurante ao lado, quando ouvi um barulho forte. Fui ver o que era e vi a estrutura caída em cima do meu carro”, lamenta.
Apesar dos danos materiais, Lindenberg comemora a vida. “Estava ali quatro ou cinco minutos antes de cair”, conta. O que salvou sua vida foi a mudança na rotina. “Eu chego 7h30, estaciono o carro e vou trabalhar. No horário de almoço, voltei e coloquei umas coisas dentro para ir comer. Tenho o costume de descansar no carro, entre 12h e 13h30, lendo, ouvindo jornal. Hoje (ontem), tinha um curso. Fui almoçar e iria voltar para pegar o carro e ir ao curso. Se fosse um dia normal…”.
Pedido de socorro
O primeiro chamado de socorro veio justamente de um bombeiro que estava estacionado a menos de 50 metros do local. O sargento Anderson Pimenta de Lima, de 47, conversava pelo celular com o filho em um veículo quando viu o desabamento. “Estava de frente para o viaduto quando ele caiu em bloco. Não passava nenhum carro na parte superior ou inferior. Após a queda, como tenho o rádio, acionei o Corpo de Bombeiros”.
Quando percebeu a dimensão do acidente, pediu ajuda a dois PMs para conter os curiosos. “Podia haver explosão, por conta do restaurante, ou mais desabamentos. Pensei, no primeiro momento, em evitar mais problemas”, afirma. “Por alguns segundos eu não imaginava que estava vendo aquilo. Quando caí na real, fui acionar o socorro e fazer o que podia para ajudar enquanto bombeiro”, acrescenta.
A proprietária do restaurante Floresta, Paula Miranda, atingido pelo desmoronamento, torce para que a estrutura do estabelecimento não tenha sido completamente afetada. “Só a parede de fora do restaurante que caiu”, assegura. Para ela, o pior foi o susto. “Um barulho enorme. Achei que tinha caído um carro do viaduto, que fosse um acidente”, pondera. No horário da queda, o restaurante estava com 30 pessoas, 15 funcionários e 15 clientes. A primeira reação da mulher foi pedir para que saíssem. “Estava tirando funcionário, desligando água, luz, desligando o gás, para todo mundo ficar bem e não acontecer mais nenhum problema. Fui correr para acudir todo mundo”, relata. (Colaborou Matheus Venzi)
Saiba mais
Em nota, o GDF afirmou ter determinado a diversos órgãos de Governo a adoção de medidas para resolver os problemas surgidos com o desabamento. Ficou acertada a interdição do local, até o dia 19, “para a realização de uma avaliação técnica e pericial sobre as causas do episódio” e foi formulado “um Plano de Mobilidade Emergencial para garantir o fluxo seguro de veículos”. O GDF também decidiu convidar entidades da sociedade civil para compor uma comissão que analisará os problemas no conjunto de três viadutos do início do Eixão Sul.
O GDF afirma ainda que vai “dar continuidade ao trabalho que vem sendo realizado por diversos órgãos de Governo, também em conjunto com entidades da sociedade civil”, para definir prioridades de ações para “recuperação de viadutos, pontes e outras obras de arte de Brasília”, além de buscar “os recursos necessários para o prosseguimento das obras de recuperação”, destacando que já investiu mais de R$ 67 milhões neste tipo de ação.
Verbas disponíveis não foram usadas
Francisco Dutra
francisco.dutra@grupojbr.com
Obras de conservação de pontes, viadutos e edifícios públicos não foram prioridade no DF. Segundo pesquisa no Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo), em 2017, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) tinha no orçamento, aproximadamente, R$ 70 milhões para ações de conservação em equipamentos públicos. Do total, foram empenhados R$ 14 milhões, ou 20%% do dinheiro disponível. Inicialmente, havia R$ 58 milhões para a conservação de edifícios, mas foram gastos apenas R$ 4 milhões. Para pontes e viadutos, foram usados R$ 10 milhões dos R$ 12 milhões previstos.
Professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB), José Matias-Pereira lembra que o orçamento não é impositivo. Por isso, um dos motivos para a baixa execução seria a crise financeira. Contudo, para ele, a queda do viaduto no coração de Brasília é um sinal de que ações preventivas deveriam ser prioridade.
“Esse descaso não começou com Rollemberg. Vem de governos passados. Ele deu segmento para esse cenário em que os governantes deixam de fazer as coisas importantes. Em síntese, a queda desta obra é o retrato da má gestão pública”, afirma. O professor enfatiza que obras públicas não desabam simplesmente. Dão sinais, como rachaduras e infiltrações. “Felizmente não houve vítimas até agora. Mas esse episódio vai gerar um efeito cascata. A circulação da cidade está comprometida. Essa via é uma das principais artérias de Brasília. Quem tem coragem de passar por lá agora”, questiona.
GDF veta e ignora lei para manutenção de pontes e viadutos
Segundo gabinete de deputado, há necessidade de reparos em pontes
O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) vetou um projeto lei cujo objetivo era a manutenção de pontes e viadutos no DF. O Executivo deveria fazer inspeções anualmente e tomar a medidas necessárias para a conservação do patrimônio público. A Câmara Legislativa derrubou o veto, mas o Executivo ignorou a legislação. O projeto de lei 5.825/2017 é de autoria do deputado distrital Cristiano Araújo (PSD). “Não podemos mais conviver com situações como essa e com o risco iminente de ocorrer outros rompimentos e abalos nas estruturas das nossas obras viárias, que colocam diariamente em risco a vida de milhares de cidadãos. Tenho certeza de que agora o governador Rodrigo Rollemberg vai encarar esse grave problema de frente. Vou procurá-lo para que possamos elaborar urgentemente um cronograma de vistoria dessas obras”, comentou.
FONTE: JORNAL DE BRASÍLIA 
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