Por vezes adiado, o lançamento do bilhete único, enfim, ocorrerá hoje, no Palácio do Buriti. O Executivo escolheu o Dia Mundial Sem Carro para anunciar a iniciativa, promessa de campanha do governador Rodrigo Rollemberg. A medida, que vai permitir que o usuário pague o valor de uma só passagem para mais de um meio de transporte, tenta estimular o uso dos coletivos em tempos de mobilidade cada vez mais caótica.
Em Brasília, ter um carro na garagem faz parte da cultura. E eles têm se multiplicado nas residências: para se ter uma ideia, há mais veículos do que motoristas habilitados. Enquanto o Departamento de Trânsito (Detran-DF) registrou uma frota de 1,7 milhão de automóveis emplacados, são 1.689.563 condutores. Com mais de 10 mil carros a mais do que habilitações, o reflexo desta diferença pode ser visto na dificuldade de encontrar estacionamento e na falta de fluidez no trânsito.
Paulo César Marques, doutor em estudos em transporte da Universidade de Brasília (UnB), acredita que o principal fator para os constantes congestionamentos é o hábito do brasiliense usar o carro em qualquer deslocamento. “O morador de Brasília acha que, pelo fato de ter comprado um carro, ele precisa ter uma malha viária e estacionamentos suficientes para todos os carros. Isso custa caro aos cofres públicos”, observa.
O doutor em urbanismo pela UnB Antônio Carlos Carpintero, concorda. “A criação de mais estacionamentos acaba fomentando a compra de automóveis. É preciso seguir o caminho contrário”, disse o urbanista. Para ele, opções de transportes como o metrô são mal aproveitadas na cidade.
Marques defende que é necessário investir em alternativas atrativas para que a população deixe de usar carro e passe a adotar o transporte público como meio de deslocamento principal. Para ele, cobrança de estacionamento nas regiões centrais do Distrito Federal acabaria forçando as pessoas a deixar o carro em casa. “Em cidades grandes é difícil você achar estacionamento fácil e grátis. Pode ser uma alternativa”, sugeriu.
Para o especialista em trânsito, esse número alto de veículos se deve, por exemplo, a automóveis pertencentes a empresas. “A partir do momento que chego ao meu trabalho, eu deixo de usar meu carro e passo a usar o da minha empresa”.
Ele acredita que desestimular o uso do automóvel e forçar a pessoa a usar coletivos pode ser uma solução. No entanto, é preciso ter investimento no transporte público. Ele apontou a necessidade de oferecer conforto e melhorar o tempo de deslocamento para as pessoas passarem a considerar o transporte público uma alternativa viável.
Alternativas saem caro
Morador de Águas Claras, o administrador André Mota, trabalha no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), tem carro próprio e usa apenas o transporte público para trabalhar. “Fujo do estresse de dirigir em meio ao trânsito e, na região do meu trabalho, estacionamento não é uma coisa muito fácil”, explicou. No entanto, Mota falou que o custo não é e vantajoso, já que gasta R$ 15 por dia em ônibus e metrô.
Joelma Lacerda, assistente comercial, mora em Taguatinga e também trabalha no SIG. O trabalho dela e do marido são próximos, então eles usam o carro. Ela calculou que o custo com combustível, para os dois, é o mesmo valor que gastariam com passagem. “A gente acaba economizando tempo e tem a possibilidade de um pouco de conforto”, contou. Ela disse que, de carro, demora 35 minutos. Tempo inferior ao de ônibus: cerca de uma hora e 20 minutos.
Problema histórico
Antônio Carlos Carpintero, da UnB, apontou a centralização dos serviços, no Plano Piloto, como um dos problemas. O surgimento das cidades satélites surgiu como uma espécie de exclusão social. Com a concentração de empregos no centro, o deslocamento causa congestionamentos. “O problema foi gerado pelo próprio governo”, apontou.
Em nota, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), responsável pelas rodovias do DF, disse que conta com uma central de monitoramento por câmeras, que permite a identificação de pontos críticos. O DER também opera as faixas reversas na Epia e na Estrutural em horários de pico.
De acordo com Silvain Fonseca, diretor-geral do Detran-DF, o órgão faz ações de monitoramento, por meio dos radares. Pela velocidade média na via, monitorada pelos radares, é possível saber se há retenção e mandar uma equipe ao local para controlar o trânsito. Entre outras soluções para melhoria do tráfego, estão estudos de engenharia.
SERVIÇO
- O metrô vai liberar o acesso ao sistema para os usuários que estiverem com bicicleta hoje. Os dois últimos vagões de cada trem serão reservados a ciclistas das 6h às 23h30.
- Para atender a população que trabalha no Setor Comercial Sul (SCS), o DFTrans vai disponibilizar uma linha especial para quem estacionar no Parque da Cidade.
- No Dia Mundial sem Carro, o setor concentrará uma série de atividades relacionadas à data e ficará interditado para o trânsito de veículos, justamente para realçar o impacto dos automóveis no meio ambiente e na qualidade de vida da cidade.
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