
Mais um relato dos abusos sexuais cometidos pelo médium João de Deus foi escancarado na noite deste domingo (16/12), no programa Fantástico, da TV Globo. A mineira Camila Correia Ribeiro sofria de síndrome do pânico quando procurou o líder espiritual em 2008 e teria sido molestada, na frente do próprio pai. Desde o último dia 12, relatos como o da jovem não param de surgir: de lá para cá, o Ministério Público de Goiás recebeu mais de 300 denúncias de mulheres, brasileiras e estrangeiras, que teriam sido sexualmente abusadas pelo líder espiritual.
A visita de Camila a João de Deus ocorreu há 10 anos. Ela tinha 16 anos e estava acompanhada do pai: foi molestada na frente dele, conforme a jovem disse à reportagem. O ato ocorreu durante consulta realizada na Casa Dom Inácio de Loyola – centro espírita mantido pelo médium em Abadiânia (GO).
Camila se mostrou imediatamente incomodada com os gestos invasivos do médium. “E ele falou assim: ‘Calma, isso faz parte do tratamento”, narrou. O pai, Augustinho, apesar de estar a poucos metros da cena, não soube o que fazer: ele foi orientado a permanecer de olhos fechados durante o “atendimento” da filha. “Pensava que ela estava recebendo a cura. Não pude fazer nada”, lamentou.
Segundo o relato de Camila, João de Deus prosseguiu com o abuso, pegando a mão da jovem e a colocando em seu pênis. De volta a Minas Gerais, a jovem contou o que houve para a mãe. Os pais, então, procuraram a delegacia e registraram boletim de ocorrência contra o líder espiritual.
Segundo a apuração do Fantástico, Camila foi uma das primeiras mulheres a procurarem a Justiça para denunciarem o médium. Nesta tarde, após João de Deus se render e ser levado a Goiânia para prestar depoimento, o delegado-chefe da Polícia Civil do estado, André Fernandes, disse que, além da apuração dos 300 relatos feitos desde o último dia 12 ao Ministério Público de Goiás, há mais três inquéritos sobre denúncias contra João de Deus em andamento: ele não as detalhou.
Ainda de acordo com a reportagem da TV Globo, uma outra jovem, também de 16 anos e mineira, recorreu à Justiça para dizer que havia sido assediada na Casa Dom Inácio. Mas a vítima desistiu de levar seu relato adiante e o episódio terminou sem julgamento.
Arquivamento e recursoO resultado do caso de Camila saiu em 2013. A juíza responsável, Rosângela Rodrigues Santos, decidiu absolver o médium e arquivar a denúncia, alegando que o pai da adolescente poderia ter reagido à atitude do abusador.
O Ministério Público de Goiás recorreu da decisão, mas o relator, Fabio de Campos Faria, duvidou da mineira, justificando que a narrativa da jovem seria fruto da síndrome de pânico sofrida por ela. O médium foi novamente absolvido, agora por falta de provas. Fiquei como errada, sabe?”, disse Camila. O caso dela não cabe mais recurso e não pode ser reaberto.
Eu gritei por Justiça lá atrás. Não me ouviram. Mas podem ouvir elas [outras vítimas] agora. Eu não preciso ter medo. Necessito mostrar que superei isso. Sou forte, escolhi o direito por isso [Camila é advogada]. Luto pela Justiça. Fui vítima há 10 anos. Não sou mais hoje"
Denúncia na AustráliaAlém da história de Camila, a reportagem do Fantástico mostrou ainda outro episódio relacionado a antigas denúncias contra o médium.
Em 2014, João de Deus foi entrevistado por uma televisão australiana para o programa 60 Minutes sobre um caso de 2010: uma colombiana disse ter sido abusada pelo brasileiro em um centro de cura no estado norte-americano do Arizona.
O repórter pergunta se o líder espiritual já abusou sexualmente de alguém, mas a tradutora do médium se recusa a transmitir o questionamento. A tradutora da reportagem passa a pergunta adiante. E João responde: “Da sua mãe”.
Depois, ele pede para ver o material gravado pela equipe australiana, que se recusa a mostrar o conteúdo registrado. Em cenas exibidas pelo Fantástico, João de Deus chega a segurar o braço da tradutora da TV australiana. O repórter reclama. O médium, então, solta a moça. Segundo a reportagem exibida nesta noite, a entrevista com o canal estrangeiro termina ali.
FONTE: METROPOLES
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