O movimento é, acima de tudo, um ato político, de acordo com os manifestantes. "Criamos uma cultura para as nossas crianças e adolescentes. Quem sabe em 20 anos eles já nos olhem como pessoas com direitos?", questiona Flávio Brebis, participante da manifestação. Em 2012, a marcha contou com 5 mil pessoas, e a expectativa é que hoje esse número dobre. Eles começaram a Parada no estacionamento da Feira Permanente de Samambaia, vão dar a volta na Avenida Comercial e encerrar as atividades onde começaram, por volta das 22h.
CASOS EM SAMAMBAIA
A Polícia Civil ainda investiga a motivação para o crime brutal ocorrido no último sábado (06). Anne Mickaelly, 23, foi morta com facadas no rosto e no pescoço pelo pai de sua companheira, José Brito, 46, que se encontra foragido. Uma das possibilidades é que o pai não tenha concordado com o relacionamento da filha com uma mulher e tenha cometido o crime.
Em uma rede social, Anne relatou que sofreu homofobia. A postagem foi feita no dia 16 de novembro do ano passado e ela diz que o pai de uma menina com quem ela se relacionava tentou afastar o casal quando descobriu a união. O relacionamento anterior dessa menina era com um homem e teria sido abusivo. “Ela sofre calada. Comendo o pão que o diabo amassou, até que ela faz amizade com uma mulher gay. As duas saem, se divertem e a garota que tanto sofria, e só chorava, agora era feliz ao lado de um ser igual a ela”, afirma na postagem.
OUTRO CASO
Um jovem de 21 anos agredido por três homens em Samambaia Sul afirma ter sido vítima de homofobia. O caso ocorreu no último dia 6, mas até hoje Thiago de Lima Cursi sente dores. Segundo o rapaz, ele estava em uma distribuidora de bebidas próxima à sua residência, quando o grupo começou a encará-lo.
“Eles mexeram comigo, mas foram embora. Uns 40 minutos depois, voltaram de carro e me chamaram pelo nome. Pensei que fosse alguém conhecido e me aproximei. Nesse momento, o rapaz que estava no banco do passageiro desceu e me deu um soco tão forte que fiquei desnorteado. O motorista e outro homem também desceram e começaram a me bater”, lembra.
Thiago ainda tentou fugir. “Eu consegui correr e, quando cheguei na casa da minha sobrinha [que fica na mesma quadra], eles me alcançaram. Me enforcaram, chutaram a minha cabeça, minha costela e meu peito. Eles ficavam dizendo que eu era um ‘viadinho’ e que teria que morrer”, detalha Thiago. Segundo o jovem, os agressores ainda roubaram o celular dele.
“Sofremos um ataque de ódio gratuito em plena luz do dia. Ninguém precisa aceitar, basta respeitar. A gente vê casos de agressão contra homossexuais, mas nunca imagina que acontecerá conosco”. O relato é de um jovem de 20 anos, que foi agredido, junto com um amigo, por quatro garotos em uma das avenidas mais movimentadas de Samambaia. Este foi o segundo episódio de intolerância sexual que Leandro de Paula sofreu em menos de uma semana. A Polícia Civil investiga.
Leandro conta que caminhava, como de costume, pela ciclovia da Primeira Avenida de Samambaia por volta das 16h30 de terça-feira, quando reparou nos olhares, comentários e risadas de seis adolescentes próximos a uma sorveteria da Quadra 402. “O sol estava quente, então dividíamos um guarda- chuva e conversávamos. No caminho, vários carros buzinaram, mexeram com a gente, como acontece normalmente. Quatro daqueles meninos, de bicicleta, nos cercaram e começaram a nos agredir sem mais nem menos”, lembra.
Foram socos, chutes e até arremesso de sorvetes. Ferimentos ainda marcam as pernas do rapaz. As mãos já não estão completamente trêmulas, mas a voz embargada denuncia a tensão de detalhar a experiência. “Nos chamavam de veado, mandavam a gente virar homem e gritavam muito. Eu tentava me livrar de um, mas logo tinha outro em cima de mim. Eram muito agressivos e rápidos. Agora não conseguimos sair de casa… Temos medo”, relata.
Saiba mais
- O Brasil é líder do ranking mundial de assassinatos de transexuais em 2016. Das 295 mortes semelhantes registradas até setembro em 33 países, 123 ocorreram aqui, de acordo com dados divulgados em novembro pela ONG Transgender Europe.
- Há dois anos foi arquivado o Projeto de Lei da Câmara 122/2006, que tinha por objetivo criminalizar a homofobia, equiparando-a a outros preconceitos já considerados crimes em lei específica, como contra raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A “lei anti-homofobia” foi engavetada após oito anos no Senado.
O colega, Samuel Augusto, 20, está ainda mais abalado. Não consegue falar sobre o caso e, ontem, tomou remédio para tentar dormir. Na internet, desabafou: “Tudo isso pelo simples fato de sermos homossexuais e estarmos andando na rua, conversando, rindo, como qualquer amigo faz, mas por não nos encaixarmos no padrão hétero meu amigo foi machucado e quase fomos assaltados”.
Testemunhas
A agressão, no meio da rua, chamou a atenção dos moradores. Ninguém, segundo Leandro, interveio. “Acho que ficaram com medo”, afirma. Na sorveteria de onde partiram os agressores, apontados como menores de idade pelas vítimas, funcionários e clientes testemunharam o caso. As câmeras de segurança registraram a presença dos suspeitos comprando os sorvetes momentos antes do acontecimento. As imagens devem ser analisadas pela polícia.
“Foi tudo muito rápido, todos acharam que era assalto. Os meninos eram pequenos, tinham uns 15 anos. Chegaram na loja fazendo arruaça”, lembra Erick Ribeiro, atendente de 21 anos que gravou o momento em que as vítimas encontraram com dois policiais na rua.
Ontem, Leandro registrou boletim de ocorrência na 26ª Delegacia de Polícia, em Samambaia. Inicialmente, o agente classificou como lesão corporal, tentativa de roubo e injúria preconceituosa por sexo/gênero. O delegado dará a tipificação final.
Preconceito é capaz de matar
A Secretaria de Segurança não tem dados sobre crimes relacionados a homofobia. Esses delitos são enquadrados a depender da situação, como difamação ou agressão. Apesar disso, o último Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil, de 2016, do Grupo Gay da Bahia (GGB), indica que a LGBTfobia matou pelo menos seis pessoas: quatro gays e dois transsexuais por arma de fogo, arma branca, espancamentos e asfixia.
Um deles foi José Elenilson de Sá César, de 51 anos. O servidor da Secretaria de Planejamento (Seplag) do GDF foi encontrado morto em dezembro no apartamento onde morava, na 716 Norte. O corpo estava em cima da cama com marcas de sangue, sinais de esfaqueamento e o rosto coberto com lençóis. O caso ainda é investigado pela 2ª DP.
O último Relatório Sobre Violência Homofóbica no Brasil da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República é de 2012 e coloca Brasília como a capital com mais denúncias de agressões. Na época, houve 239 queixas.
Leandro, a vítima de Samambaia, esteve na mesma delegacia no sábado passado, registrando outra ocorrência por intolerância sexual, após um conhecido agredi-lo verbalmente e ameaçá-lo pela orientação sexual. “Não sei o que será daqui para frente. Sei que poderia ter sido pior”, lamenta.
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