A falta de gás de cozinha provoca abusos no Distrito Federal. Algumas distribuidoras cobram de R$ 140 a R$ 200 pelo botijão, sendo que o preço mais alto, antes da crise de combustíveis, era de R$ 95. O cenário mais comum, no entanto, é a ausência do produto. Ontem, o Correio ligou para 36 distribuidoras de gás, em Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Sobradinho, São Sebastião, na Asa Norte, Asa Sul, no Gama, Guará, Cruzeiro e Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (Saan). Do total, apenas quatro, todas localizadas no Cruzeiro, atenderam ao telefone. Nenhuma tinha o produto. O Sindicato das Empresas Transportadoras e Revendedoras de Gás LP do Distrito Federal (Sindvargas) ainda não tem um balanço do desabastecimento.
A empresária Maria de Fátima Alves do Santos, 47, tenta comprar um botijão desde domingo, no Núcleo Bandeirante. Até ontem, ela havia ligado para 10 estabelecimentos. Ninguém a atendeu. “Estou sem poder cozinhar e gastando dinheiro para fazer as refeições na rua, com a minha filha. Até o básico para a nossa sobrevivência está faltando, e os governantes não conseguem controlar a situação”, reclamou. Em Sobradinho, a servidora pública Alessandra Pinhape, 47, não encontra o produto desde 24 de maio. Ela e o marido improvisam com panelas elétricas. “O ruim é que não conseguimos fazer uma refeição completa. Quando fiquei sabendo de um local que ainda tinha o botijão, deparei-me com o preço de R$ 200, um absurdo”, queixa-se.
Segundo o presidente do Sindvargas, Sérgio Costa, a orientação é de que as revendedoras repassem os botijões nos valores cobrados antes da crise. “Pedimos que as revendedoras não pratiquem os aumentos em respeito ao consumidor, que não deve pagar a mais por conta dessa situação de greve. É claro que pode haver algum fato isolado, onde um estabelecimento venda com um valor mais alto. Nesses casos, o consumidor deve procurar os seus direitos e acionar o Procon”, sugere Sérgio.
Nos condomínios com sistema encanado, a situação está controlada, pelo menos até o fim da semana, de acordo com o Sindicato dos Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal (SindiCondomínio). O presidente da entidade, José Geraldo Dias, disse que, até o momento, nenhum síndico procurou a entidade por causa da falta do GLP. “As distribuidoras ainda não me passaram e não tiveram condições de quantificar quantos prédios estão com o estoque de gás zerado. Quase todos os condomínios receberam a reposição do produto antes da greve começar, então, acredito que os residenciais ainda têm mais de 40% de estoque, que deve durar até sexta”, explicou José Geraldo.
Em nota, o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás) informou que grevistas e policiais liberam a passagem de caminhões com GLP granel para o abastecimento dos serviços essenciais à população, como hospitais, creches, escolas e presídios. Ressaltou, porém, que os botijões de 13kg, 20kg, 45kg, vazios ou cheios, com a emissão de nota fiscal para as revendas, “não são reconhecidos pelos grevistas como abastecimento de um serviço essencial, o que é um equívoco”.
Ontem, 5 mil litros de GLP (gás de cozinha) foram entregues a revendedores. Os depósitos de Brasília não recebiam os botijões desde a semana passada. Esse atraso atrapalha a rotina do comércio. Gerente em um restaurante da 202 Sul, Luís Alberto Suzar, 34, compartilha o produto com 10 estabelecimentos da quadra. Na tarde de ontem, o nível de gás disponível era inferior a 20%. “Toda segunda-feira, o caminhão vem para reabastecer. Contudo, ontem não passou aqui. Acredito que o gás só vai durar até amanhã. Se ele acabar, 20% dos pratos do cardápio não serão produzidos. Vou ter de me virar apenas com o fogão a lenha”, contou.
Na 102 Sul, o restaurante de Martin de Araújo, 40, conta com dois botijões de 280kg. A cada 15 dias, o produto é renovado. Por enquanto, Martin não passa dificuldades, mas espera que o próximo abastecimento, previsto para 2 de junho, não atrase. “O meu estabelecimento aguenta, no máximo, dois dias sem gás. Caso os novos botijões demorem a chegar, não teria outra saída: fecharia as portas do restaurante”, admitiu. No último fim de semana, Martin percebeu um movimento menor no local. “No domingo, por exemplo, vendemos apenas 25 bufês. O normal é vendermos 90. Para os próximos dias, a tendência é de que isso continue. As pessoas estão sem combustível. Ninguém vai querer sair de casa”, lamentou.
Fonte Correio Braziliense
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