Passageira cria trauma após sofrer quatro assaltos em coletivos em Samambaia

Traumatizada, ela passou incontáveis noites em claro. Na memória, o medo de que os bandidos voltassem por vingança, já que a prisão aconteceu minutos depois. 

Os dias passaram, mas o assalto se mantinha presente na memória. Naquele carro, a empresária nunca mais entrou. O Celta acabou vendido, uma equipe de segurança privada foi contratada e mudanças de hábito foram adotadas rapidamente. 
– Fico em pânico. Não dormo, só penso que vão entrar na minha casa. Agora, não deixo mais o carro na rua. Faço o que tenho de fazer no pátio e só saio quando tudo está arrumado – explica.
Antes de chegar em casa, Karollini circunda a quadra para ter certeza que não há criminosos à espreita.
mulher alterou modo de se vestir para “enganar“ ladrões
Calçando tênis surrados e vestindo roupas batidas, uma auxiliar administrativo de 30 anos carrega a sua velha mochila rasgada, já maltratada pelo tempo pelas ruas de Samambaia. Como se andasse fantasiado, o traje nada narcisista é tentativa de passar despercebido pelos criminosos, que, em incontáveis assaltos, já levaram, além da sua vaidade, os mais diversos objetos pessoais.
Se a estratégia surte algum efeito, a mulher não sabe, afinal, recentemente, foi assaltada duas vezes em quatro dias. Em uma delas, no dia 8 deste mês, abordado dentro de um ônibus em Samambaia, só teve tempo de retirar o celular do bolso e colocá-lo entre o banco do coletivo e seu corpo, enganando os bandidos que faziam arrastão. Na última abordagem, na segunda-feira, na quadra 305 de Samambaia,  usou outra estratégias antiassalto: entregou o telefone velho que sempre carregava.
– Se te levam alguma coisa e não te machucam, é só mais um assalto – diz, sentindo-se impotente.
As mudanças de atitude do moradora de Samambaia, que prefere ter a identidade preservada, vão além da forma de se vestir, pequenas medidas que posam ser tomadas após ser vítima da criminalidade dentro de coletivos:
– Não sento perto do cobrador e nem no fundo do ônibus. Evito também ficar no banco do corredor, porque parece ser mais exposto, e não carrego muito dinheiro.
Mais casos: Auxiliar administrativo desistiu de comprar telefone
O também auxiliar administrativo Ruan Santos  perdeu o apego por celulares depois dos cinco assaltos que sofreu nos seus 27 anos de vida. Ainda pagando as prestações do último aparelho roubado, passou a usar um celular velho que sua mãe tinha em casa. E promete não comprar outro.
– Não vale a pena. Para ser roubado de novo? – questiona.
A violência exigiu atitudes, mas a autoproteção tem um limite, que se torna prejudicial quando ultrapassado, ao citar os perigos do conformismo em relação à violência, hoje banalizada.
– Algumas pessoas deixam de registrar ocorrência policial por estarem acostumadas com assaltos. Assim, se tornam coniventes com a incorporação da violência à sociedade – 
Acolhimento e amparo de familiares são fundamentais
Algumas medidas podem ajudar a vítima de um assalto a superar o trauma da violência. E é neste momento que a presença da família e dos amigos se torna fundamental, acolhendo a pessoa e seu sofrimento.
– Ela precisa sentir-se segura para enfrentar o medo – diz a psicóloga Ana Beatriz Guerra Mello.
Em hipótese alguma, complementa o psiquiatra Nelio Tombini, o sofrimento da vítima pode ser desqualificado.
– Acolher a pessoa do jeito que ela está, sem dizer que é bobagem o que está sentindo, é imprescindível.
Evitar temporariamente o local do assalto, como alternativa para não intensificar o trauma, pode ajudar, desde que isso não se torne bloqueio permanente. Se o receio persistir, a angústia deve ser repartida para
tornar-se menos danosa. Nesse caso, aconselha-se refazer o caminho na companhia de familiares.
– A gente não pode viver limitado, evitando determinado caminho eternamente, por exemplo – salienta Ana Beatriz, dizendo que alguns traumas jamais são superados e cabe à vítima procurar terapia para aprender a conviver com a nova realidade:
– Falar sobre permitirá que a vítima consiga conviver com isso.

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