Assentos preferenciais em ônibus em Samambaia gera brigas diariamente


“Assento preferencial para obesos, gestantes, pessoas com crianças de colo, idosos e pessoas com deficiência”. O alerta é encontrado em ônibus e metrôs de todo o país. A lei que obriga as empresas de transporte público a reservar assentos para pessoas com necessidades especiais está em vigor há quase 15 anos, em âmbito federal. No entanto, a opinião quase unânime entre usuários e funcionários dos coletivos é que, na maioria das vezes, não é cumprida. Seja pelo intenso cansaço do dia a dia ou pela simples falta de cidadania, ainda hoje é comum encontrar passageiros que não cedem a cadeira na presença de quem precisa.


O massoterapeuta Armando Ribeiro, deficiente visual de nascença, diz que os problemas sofridos pelo desrespeito aos assentos são corriqueiros. “Para nós, deficientes visuais, é muito complicado. Não sabemos quem está ali sentado e a maioria das pessoas fica muito irritada quando pedimos para levantar”, afirma ele, que utiliza o ônibus todos os dias para chegar ao trabalho. “Em quase todas as vezes que pego em horários de pico, preciso que alguém segure minha bengala e minha pasta e fico em pé. Raramente o cobrador ou motorista se manifestam para que alguém se levante”, conta. Armando assume que tem medo de sofrer represálias ao pedir o assento por conta própria.
Entre os passageiros com cadeiras preferenciais, é comum o constrangimento em exigir os próprios direitos. Mas há quem faça questão de cobrar. “Eu chego para o jovem no assento e pergunto: é gravidez? A maioria das pessoas fica encabulada e levanta pedindo desculpas”, conta a aposentada Marlene Dantas, 67 anos. O bom humor, no entanto, é apenas uma forma de amenizar o incômodo do pedido. “As pessoas deveriam oferecer por conta própria”, critica. Quando a situação envolve gestantes ou crianças de colo, o problema parece ser menor. A dona de casa Lorena Fidelix não tem com quem deixar a filha de 7 meses ao sair. Ela conta que conseguir assentos nos ônibus nunca foi uma dificuldade. “Sempre me oferecem lugar. Acho que é porque as pessoas veem que ela é pequenininha”, diz.

O estudante de direito Jonas Barros não é um passageiro especial, mas utiliza os assentos reservados. “Como são preferenciais, e não exclusivos, eu sento quando vejo que não tem ninguém que precisa, mas procuro ficar atento para oferecer caso alguém chegue”, explica. A opinião entre a maioria dos passageiros é de que é preciso haver mais campanhas de conscientização em relação aos assentos e, principalmente, uma radical melhora nos serviços de transporte público, como aumento da frota de veículos e número de linhas. “A pessoa que pega um ônibus lotado e demora horas para chegar em casa não vai querer perder o lugar, mesmo sabendo que tem alguém que precise mais que ela”, sugere o engenheiro Evaldo Albernaci. Ele conta que pouco anda de ônibus, mas nas raras vezes em que precisa, depara-se com problemas relacionados aos assentos. “Quase sempre, é preciso que o cobrador ou motorista peça para a pessoa se levantar”.
Segundo a Secretaria de Estado de Mobilidade do Distrito Federal (antiga Secretaria de Transportes), é dever das empresas de mobilidade urbana orientar motoristas e cobradores a atentarem para o cumprimento da medida pelos passageiros.  Caso alguém insista em permancer no assento na presença de quem precisa, os funcionários podem pedir ajuda policial. A inspeção das cooperativas fica por conta da Subsecretaria de Fiscalização, Auditoria e Controle e, caso seja constatada alguma irregularidade por parte das empresas, o órgão pode autuá-las quantas vezes for necessário.
Dos seis cobradores e motoristas ouvidos pela reportagem, apenas um deles disse ter recebido orientações da cooperativa quanto ao controle dos assentos preferenciais. Miguel Bastos é cobrador há 13 anos e conta que já recebeu treinamento da Marechal Transportes para lidar com diversas situações em um ônibus. “Acho que a maioria dos cobradores controla os assentos, sim. Mas os passageiros também precisam se conscientizar mais”, afirma. Segundo ele, da aprovação da lei em 2000 para cá, a situação melhorou. “Mas quando a linha é longa e o ônibus é lotado, todo mundo quer sentar e muita gente não liga se tem alguém que precise mais”, diz. Ele afirma que nunca deixa de pedir para que passageiros se levantem dos assentos, mesmo que muitos se irritem com o convite: “É só pedir com educação”, conclui.

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1 comentários:

  1. Fonte (reportagem de 2015): Jornalismo IESB http://jornalismo.iesb.br/2015/03/21/assentos-preferenciais-sao-desrespeitados-por-usuarios-de-transporte-publico-2/

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