Polícia Militar opera com 7,3 mil homens a menos em relação ao ideal, segundo a própria instituição. O efetivo atual de 11,3 mil servidores é menor até do que o registrado em 1993, quando a população era 50% menor, mas contava com 13 mil policiais. Mesmo assim, o comandante-geral da corporação, coronel Marcos Antônio Nunes, garante que a cidade nunca esteve tão segura, com a menor taxa de homicídio desde 1985: são 15 assassinatos para cada 100 mil habitantes, entre janeiro a setembro de 2017, conforme a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social (SSP-DF). “Temos problemas, como todas as cidades do mundo, mas são inegáveis os avanços. A redução dos homicídios não é pouca coisa”, defende o militar, que está há um ano e dez meses no cargo.
Os dados que você apresenta mostram que a cidade tem menos assassinatos, menos roubos. Por que, então, a população não se convence disso?
Os dados são irrefutáveis. A secretaria divulga isso todo mês e eles estão aí para quem quiser conferir. Hoje, as mídias sociais fazem um crime tomar uma proporção muito maior do que antigamente. Por conta da facilidade da comunicação – todo mundo tem um smartphone – a divulgação é rápida, e ainda tem a televisão trazendo realidades de outros locais fora de Brasília.
Quais foram as ações pontuais tomadas pelo atual comando para chegar a esses números?
De maneira geral, o programa Pacto pela Vida trouxe uma nova realidade, com nova metodologia. O governador participa e se empenha. Ele sempre está nos apoiando, criando concursos e agindo de maneira solidária. Liberou todos os concursos da PMDF, que estão em tramitação. Alguns estavam paralisados há quatro anos e o governador nos ajudou. Está liberado um concurso para dois mil soldados e já já devem sair os detalhes. O programa Pacto Pela Vida traz um trabalho integrado das forças com a sociedade. Nos reunimos toda terça-feira e as diferentes forças de segurança estão juntas para se reunir e estudar a criminalidade. Outros órgãos são chamados e, com a metodologia, temos conseguido avançar. Estamos satisfeitos, mas temos que melhorar em outros quesitos. Sabíamos que ao superar os homicídio o proximo passo era o roubo, conhecido também como assalto. Adquirimos novos equipamentos, compramos coletes (à prova de bala), compramos armamentos internacionais, criamos um novo Centro de Operações (Copom) com uma nova sinergia, e adquirimos cinco mil rádios. Então tudo isso junto ajudou, mas o principal é o recurso humano. Nosso maior patrimônio é quem vai para a rua.
Existe uma preocupação em fazer a população sentir essas melhorias e não apenas tê-las como números?
Aí entra o papel da imprensa. Para que a sociedade viva, além da proteção, precisamos que a pessoa tenham confiança em poder ir para o trabalho, se divertir. Essa entrevista, por exemplo, é um passo importante para a sociedade saber a verdade. Estão acontecendo crimes, mas estamos conseguindo reduzir os índices em relação a outros momentos em que a população era menor. Discutimos isso hoje na secretaria. A mídia exarceba algumas coisas e isso é normal, as notícias ruins chamam mais atenção, mas é importante saber que é papel de todo mundo tornar a cidade melhor.
Quando o senhor assumiu, a secretária era Márcia de Alencar, agora é Edval Novaes. O que mudou com a troca?
A secretária Márcia trabalhou forte ano passado, mas foi um ano diferente dos outros, com muitas manifestações e muita dificuldade para a Policia Militar. Ficamos mais de seis meses parados na Esplanada com o processo de impeachment, a saída do Eduardo Cunha. Tivemos Olimpíada, passagem da Tocha Olímpica, a invasão do Torre Palace, então foi um ano bem atípico. Agora, o secretário é diferente porque ele vem do meio policial, então traz uma experiência interessante. Foi subsecretário do Rio de Janeiro e tem sido bacana o apoio dele, porque tem sido nosso cúmplice em tudo.
Existem casos em que a PM prendeu uma mesma pessoa 20 vezes. O senhor sente que o trabalho da polícia é limitado pela atuação da Justiça?
De fato, temos pessoas presas várias vezes, até 60 vezes. A questão da Justiça Criminal, e não falo do Judiciário, envolve PM, PCDF, Polícia Federal, os advogados, a Defensoria Pública, o sistema penitenciário. Hoje, a impunidade se revela por questões legais. Cada um faz o melhor, mas há impunidade sim. Se a pessoa fica presa, é trabalho a menos para a polícia. Quando a pessoa é presa tantas vezes, ela já até percebe o modus operandi da polícia e sabe todas as estratégias (para não ser pega). Isso precisa ser discutido urgentemente. A sensação de impunidade é o grande “xis” da questão. Se a pessoa souber que vai ser punida, academicamente falando, ela vai procurar outra alternativa para sua vida, independentemente da magnitude da PM. Se a pessoa souber que vai ser presa ao cometer um crime no Cruzeiro, vai para o Guará, se souber que vai ser presa em qualquer lugar do DF, às vezes nem ser presa, mas passar uma semana lavando um banheiro na Rodoviária, ela vai pensar duas vezes. Foi assim que o prefeito Giuliani ajudou a tirar Nova York do primeiro lugar no ranking de criminalidade nos EUA (na década de 1990) para último.
Conforme a PMDF, as armas de fogo são responsáveis por quase 70% das mortes no DF. Se o porte fosse autorizado para o cidadão comum, isso não aumentaria o risco à segurança pública?
É uma questão complexa. O Estatuto do Desarmamento fez o referendo em 2005 para tirar as armas de circulação e a resposta da população foi não a isso. Nos EUA, a cultura é a população se armar. Vale lembrar que as armas que apreendemos são ilegais. Se uma pessoa tiver o porte, não vai ser presa. Essa discussão se reacendeu no Congresso, pois o fato aconteceu em outro país, mas movimentou o mundo inteiro. A discussão está posta para a sociedade.
A única estatística que aumentou de 2016 para setembro deste ano foi estupro. Como prevenir um crime que acontece , na maior parte, dentro de casa?
Temos feito muitas reflexões sobre isso. Já foi identificado que aproximadamente 80% dos crimes são cometidos por conhecidos e dentro de casa. Pensando nisso, existe um centro de politicas públicas da corporação, que faz cartilhas, apresentações nas escolas e incentiva denuncias e mais conversas dos filhos com as mães. Criamos também o Provid, um programa de prevenção à violência doméstica, que monitora mil famílias. Quando a violência ocorre, a delegacia informa e a família passa a ser monitorada pela PM. Se uma ocorrência volta a ser registrada nesses lares, quando a viatura chega, a equipe já está preparada para identificar determinados comportamentos, especialmente entre os pais e a criança, e pode fazer uma denúncia. Estaremos implantando, nos próximos dias, o Botão de Emergência, que é um acordo entre o GDF e o Tribunal de Justiça. As vitimas de violência terão o smartphone e poderão só apertar um botão, que não é do pânico, mas de emergência, e um policial do 190 vai ficar só por conta disso. Aquela ocorrência vai ser prioritária. Então, a viatura vai atender primeiro essa ocorrência.
A aquisição dos quase 200 Corollas este ano se tornou polêmica. Qual a função deles, estacionados em pontos da cidade, na continuação do Pacto Pela Vida?
Trabalhamos com 500 viaturas atendendo ao 190, então existe uma metodologia suplementar, sem paralisar nenhum outro serviço, que é colocar esses Corollas para atender as manchas criminais. Eles ficam parados, mas qualquer um que chegar neles pode pedir ajuda. Isso é intrínseco ao policial, até porque se o militar se recusar a agir ele comete o crime de prevaricação. Uma coisa que tenho ouvido muito é a pessoa avisar que o carro foi roubado, aí a viatura se desloca e vai atender a ocorrência. Se as 500 viaturas do 190 estiverem ocupadas, podemos usar o Corolla tranquilamente. Antigamente o posto policial ficava paralisado, e se o policial saísse, tacavam fogo no posto, que custava caro para estar ali. Com a viatura, ele pode socorrer a pessoa, estabilizar a comunidade e ir para outro local. Ela atende de forma isonômica a comunidade.
Então elas são basicamente postos policiais com mobilidade?
Isso. Com essas viaturas, os cinco mil rádios, que facilitaram muito a comunicação interna da corporação, e o Centro de Operações, conseguimos, mesmo com a limitação no efetivo, aumentar em 60% nossa produtividade no DF. Me refiro à quantidade de atendimentos à população, no comparativo entre agosto do ano passado e o deste ano. Com esse Copom, reduzimos também pela metade o tempo de atendimento às ligações do 190. Mantemos sempre uma média de 90% das ocorrência atendidas, e este ano já foram 1,7 milhão.
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