Foi devido a algumas manchas no tórax e braços que Anderson (nome fictício), 38 anos, procurou um dermatologista. De início, ele suspeitava de alguma alergia, mas a médica, na hora, pensou que poderia ser outra coisa. A profissional estava certa: o homem estava com sífilis pela segunda vez na vida. “Não sei exatamente quando peguei, mas foi fazendo sexo sem proteção, provavelmente sexo oral, no fim do ano passado”, afirma.
Ele não se surpreendeu de ter pego a doença porque sabe que a soma do sexo oral desprotegido com uma epidemia local poderia trazer essa consequência. Mas, agora, o homem garante que toma cuidado para não ter que passar pelo tratamento, que é “simples, mas doloroso e nada agradável”.
A sífilis, que atacou Anderson e cerca de 1,3 mil pessoas no ano passado, é uma das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) – antigas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) – conhecidas há bastante tempo. Transmitida pela bactéria Treponema Pallidum, ainda pega muita gente desprevenida. Ela se desenvolve de várias formas, em diferentes estágios, e é transmitida por relação sexual sem proteção, ou da gestante para o bebê.
Como Anderson, o infectado pode apresentar manchas pelo corpo, ou até pequenas feridas. No primeiro estágio, feridas nos órgãos genitais, ânus e boca podem aparecer de dez a 90 dias após a contaminação. Se não tratadas, em um segundo momento, ficam mais sérias, mas com sumiços de até seis meses. Nesses dois momentos o risco de transmissão é grande, até porque o doente pode confundir o problema com qualquer alergia e não dar a atenção necessária.
Nesse processo, a infecção pode ficar latente, sem nenhum sintoma ou sinal. Esse período é dividido em latente recente ou tardio – com menos de um ano da contaminação ou mais de um ano. Sem as feridas, não se percebe a sífilis terciária, que pode levar à morte, já que ataca o coração e o cérebro.
Falta de proteção
Tanto a Secretaria de Saúde quanto o Ministério da Saúde consideram que há crescimento epidêmico nos últimos anos. É o que diz o gerente de DST/AIDS da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde, Sérgio D’Ávila. Para ele, algumas das principais causas são a redução do uso do preservativo, o fim do receio de contrair uma IST e a iniciação sexual ocorrendo cada vez mais cedo.
Homens são maioria dos infectados
Enquanto em 2011 houve 529 notificações (coeficiente de 20,3 a cada 100 mil habitantes), o ano passado fechou com 1.288 (43,3 a cada 100 mil). Desde 2016, jovens de 20 a 29 anos são os que mais apresentam a doença. São quatro homens infectados para uma mulher.
Sérgio D’Ávila, da Secretaria de Saúde, exprime uma preocupação especial com as gestantes. No ano passado, 290 receberam tratamento para não atingir o bebê.
Para o infectologista Alexandre Cunha, é perceptível o aumento em todas as classes sociais. Ele exemplifica que em seu consultório, às vezes aparece mais de uma pessoa por semana.
“A epidemia de sífilis é um fato consumado. É preocupante. Muitas pessoas só procuram tratamento na segunda fase. Elas não têm costume de fazer nenhuma testagem”, afirma o presidente da ONG Amigos da Vida, Christiano Ramos. Na opinião dele, seria necessário falar mais do assunto, principalmente com os jovens
Na vivência da ONG, ele percebeu que a internet ajudou a trazer muitas informações, mas fez com que as pessoas tenham mais possibilidades de encontros rápidos, sem conhecer bem o parceiro sexual. Sem a proteção necessária, não há jeito de não se contaminar.
A maior reclamação de Christiano é com a falta de atenção do governo com os contaminados. Ele comenta que já ocorreu até a falta de benzetacil para o tratamento, o que dificulta o processo de cura e leva à contínua disseminação da doença.
Sérgio D’Ávila, por sua vez, assegura que tanto o teste rápido quanto o remédio estão em dia nos estoques. As pessoas que tiverem dúvida podem procurar um centro de saúde ou hospital.
Fonte: Jornal de Brasília
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