O terror também tem espaço na 50ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Produção coletiva de Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus Tribuzi (da produtora paraibana Vermelho Profundo), O nó do diabo usa a linguagem para discutir e retratar os horrores da escravidão e seus desdobramentos e reflexos nos dias atuais.
Dividido em cinco episódios, o filme se passa em um engenho marcado pela sombra do período escravocrata. Os capítulos ocorrem em tempos diferentes, que vão de 1918 a 2018. “O engenho assume aquela coisa de castelo mal assombrado, uma tradição de cinema de horror de episódios”, conta Ramon Porto Mota, um dos diretores do filme.
Todos os episódios de O nó do diabo têm ligação e dialogam entre si. O vilão é interpretado pelo mesmo ator e algumas histórias encontram solução em outros capítulos. “Algumas ligações são muito sutis, mas os episódios se relacionam tematicamente, narrativamente de várias formas”, explica Ramon.
Além da exibição como filme, O nó do diabo também tem uma versão para a tevê. As diferenças são pequenas, segundo Ramon. Para o diretor, no entanto, a produção funciona melhor nas telonas. “Os episódios na tevê são separados. Para o cinema, a gente interligou e fez algumas transições entre eles. Acredito que funciona melhor como filme por conta do processo narrativo, dessas amarras entre os episódios”, avalia.
Falar sobre a escravidão é o cerne do longa. Mais do que lembrar dos horrores do passado, adianta Ramon, a intenção é abordar como a escravidão e seus ecos se mantêm presentes no Brasil de hoje.
“O filme trata necessariamente dos reflexos da escravidão no Brasil durante esses 200 anos. A ideia é que a gente trate para além da escravidão e mostre como isso contamina a questão política e social no Brasil hoje e também pensar em como a gente ter sido o último país a abolir a escravidão se relaciona com o que acontece hoje, com a reforma trabalhista no Congresso, por exemplo”, argumenta Ramon.
Gêneros variados
A produtora paraibana Vermelho Profundo, responsável por O nó do diabo, tem foco específico no cinema de gênero. Todas as criações da empresa, com sede em Campina Grande, abordam e dialogam com algum estilo clássico do cinema. As bases do horror, da ficção-científica, do thriller, do policial, da comédia são usadas pela produtora sem medo de mexer nas estruturas e nas regras clássicas.
Para O nó do diabo, as referências vindas do horror foram muitas. Cada episódio transita por um subgênero. Entre diversos cineastas que se consagraram no estilo, Ramon cita nomes como Maria Bava e George Romero, assim como aponta a influência do horror japonês em alguns momentos do longa.
O trabalho coletivo da produtora aparece em O nó do diabo, que é assinado por quatro diretores. Cada um deles trabalhou separadamente os episódios que dirigiu. “Cada um teve liberdade para dirigir como queria, para trabalhar com os atores e tudo da maneira como achava melhor”, destaca Ramon.
Para que o processo ocorresse assim, o roteiro e outras questões foram discutidos antes do começo da produção. “A gente discutiu o filme como um todo, discutiu questões estéticas, criou um projeto que delimitasse essas relações para que cada um dirigisse respeitando isso”, esclarece.
Brasília, acredita Ramon, era o lugar certo para a estreia desse terror com tons políticos. “Eu acho que o Festival de Brasília é o melhor lugar do mundo pra estrear esse projeto. Não teria nenhum lugar melhor, a gente está indo aí exibir nosso filme na porta do Castelo do Drácula”, observa.
Curtas
O curta-metragem da noite é Tentei, de Laís Melo. A diretora é uma das organizadoras do curso de Comunicação Popular do Paraná. Ela também faz parte de coletivos feministas e trabalha como educadora no projeto CineSol, um curso de cinema para jovens. No filme, a protagonista Glória, 34 anos, é tomada por uma angústia muito forte, até que, em certa manhã, ela tenta voltar a ser alguém.
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