Para ele, a maior dificuldade durante a realização do filme foi manter seu posicionamento político e, ao mesmo tempo, cultivar o respeito pelas pessoas, suas emoções e experiências. “Enquanto militante de esquerda, eu concebo o batalhão de choque como uma força que inibe as transformações sociais. Durante minha atuação como documentarista já realizei filmes que eram contra a corporação, que faziam ataques diretos. No caso deste filme, embora eu preserve minha leitura da realidade, existe o contato com as pessoas, a convivência, as trocas, o reconhecimento mútuo”, frisa.
Ao acompanhar o dia a dia dos soldados e soldadas, o cineasta sentiu na pele os efeitos da aproximação. “Como militante com participação em alguns movimentos sociais, havia tido alguns contatos com o Choque em situações de rua, de combate”. No entanto, a proposta do documentário não era mostrar o embate. “Queria encontrar os soldados e soldadas fora de um contexto de enfrentamento e ver o que poderia surgir do contato, além de preservar a possibilidade de uma cena que reunisse pessoas com ideais políticos e visões de mundo quase sempre conflitantes”, esclarece Marcelo.
Sem a intenção de passar uma mensagem pré-existente, o cineasta pernambucano conta que o filme vai significar coisas diferentes para cada pessoa. “Não faz muito sentido para mim a ideia de querer controlar seu sentido, centralizar a mensagem. Vejo mais como um gesto, um estopim, algo que pode eventualmente desencadear um processo reflexivo e sensitivo múltiplo”, resume Pedroso.
O diretor se diz curioso com o fato de estar em Brasília no momento atual de crise política. “É estranho pensar que estaremos assistindo aos filmes e debatendo ali, ao lado do Congresso, dos ministérios, e com tudo o que tem se passado lá”, finaliza.
Curtas e mostras paralelas
Os curtas-metragens que antecedem a exibição de Por Trás da Linha de Escudos são o também pernambucano Baunilha, de Leo Tabosa, e o paulista Torre, de Nádia Mangolini. A programação começa às 21h.
O filme de Tabosa é um documentário sobre a vida de Brenno Furrier, conhecido no meio do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) e detentor de um dos dungeons (local onde se pratica o BDSM) mais completos do Brasil.
Já Mangolini produziu uma animação sobre a histórias da infância dos filhos de Virgílio Gomes da Silva, considerado o primeiro desaparecido político da ditadura militar brasileira. Torre é seu primeiro filme como diretora.
Bandido da Luz Vermelha
Além da mostra competitiva, a mostra paralela 50 Anos em 5 Dias exibe o clássico O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla, a partir das 18h, no Museu Nacional da República (Eixo Monumental). Helena Ignez, que deu vida à mocinha do longa de Sganzerla, ganha uma homenagem na sessão Hors Concour, com a exibição de seu mais novo filme como diretora, A Moça do Calendário, hoje, às 16h, no Cine Brasília.
Já a mostra 50 Anos em 5 Dias – Registros de Uma História traz o baiano O Cinema Foi à Feira, de Paulo Hermida, para a tela do Cine Brasília, às 14h.
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