Antes de radicalizar o movimento, os 22 diretores do Sindicato dos Rodoviários se reuniram para traçar a estratégia que pressionasse governo e empresários ao mesmo tempo. “A última proposta colocada pela desembargadora foi considerada inviável pela diretoria do sindicato. Todas as tentativas de acordo foram vencidas. Estamos lutando para a categoria não perder o plano de saúde e por melhorias nas condições de trabalho”, explica Jorge Farias, presidente da entidade.
Se não houver alinhamento entre rodoviários e empresários, essa será a sétima greve em 2017. Sem consenso, nem o Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) conseguiu conciliar os interesses. Em pauta, está o reajuste salarial, o aumento no tíquete-alimentação, na cesta básica e nos planos de saúde e odontológico. O presidente da Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros (Transit), Barbosa Neto, defende que as empresas ofereceram “um acordo coletivo de trabalho baseado na realidade econômica do país”.
Para as negociações avançarem, Barbosa alerta que os rodoviários não podem “pensar em ganhos fora da realidade”. “Estamos em tempos de crise e, neste momento, devemos ter a responsabilidade de não impor perda ao trabalhador, mas também não podemos fechar os olhos para a realidade”, destaca. O Executivo local acompanha as negociações. “A categoria já está recebendo, desde o mês de maio, o reajuste referente à inflação, mas, infelizmente, quer ganhos reais que não refletem a realidade econômica do país. O governo espera que novas paralisações não ocorram para que a população não seja prejudicada”, frisa, em nota.
Comércio em alerta
Sem ônibus nas ruas, o comércio está preocupado com as dificuldades para os funcionários chegarem ao trabalho e com a possível queda no movimento. Na avaliação do presidente da Federação do Comércio (Fecomércio-DF), Adelmir Santana, é preciso manter o mínimo previsto em lei de ônibus circulando — 30% da frota. “Venda perdida não se recupera, é difícil para o comércio. Com a greve, o comércio e o setor de serviços são os mais impactados”, explica.
Adelmir diz que os patrões devem criar uma logística que possibilite aos funcionários chegarem aos postos de trabalho. “É possível pensar em compartilhamento de transporte e custeio de formas alternativas, como uso de aplicativos. A população não pode ficar desprovida de serviços”, completa. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista, Edson de Castro, defende a mesma opção. “Pode haver a contratação de vans para pegar os funcionários em casa”, ressalta.
Edson teme que a greve atrapalhe ainda mais a recuperação do comércio. “As vendas estão em baixa, o comércio será afetado. Temos 18 mil lojas fechadas por diferentes razões e essa situação agrava ainda mais o cenário. Nossa meta é fazer tudo o que for possível para o comércio sofrer o menos possível”, conclui. O comércio varejista tem, hoje, 30 mil lojas de rua e de shopping, e trabalham 101 mil pessoas no setor do DF. O Sindivarejista estima que pelo menos 48 mil funcionários serão afetados.
Passageiros
A ameaça de greve foi divulgada no início da tarde de ontem e logo a repercussão tomou conta da Rodoviária do Plano Piloto. A auxiliar de serviços gerais Edilene Costa, 45 anos, está se programando para a possível falta de ônibus. Para a moradora de Ceilândia, o metrô não é uma opção. “Geralmente, sou dispensada do trabalho, pois não compensa”, conta. A única certeza é que não usará transporte pirata. “Os valores são absurdos e eles correm muito. Não me aventuro.”
O operador de telemarketing Éder Araújo, 35, morador do Setor O, em Ceilândia, pretende usar o metrô. “Precisarei sair uma hora mais cedo de casa e enfrentar filas para pegar o trem lotado”, reclama. Ele tem carro, mas há pelo menos dois meses, desde o aumento da gasolina, não utiliza o veículo para trabalhar. “Eu intercalava entre ônibus e carro, mas agora dependo dos transportes públicos”, explica.
Gasto
A cabeleireira Mariza França, 52, mora em Samambaia e depende de ônibus para trabalhar no Plano Piloto. Em dia de greve, além de paciência, ela gasta mais dinheiro. “Os custos chegam a R$ 20 com transporte pirata e metrô”, detalha. Ela só recebe quando trabalha. Contudo, em dia de greve, prefere ficar em casa. “Costumo ganhar cerca de R$ 200 por dia no salão. Quando não tem ônibus, ganho menos de R$ 80”, se queixa.
Palavra de especialistas
Segurança é prioridade
É necessário prezar pela segurança. Aparecem bastantes veículos piratas com condições ruins. Primeiro, deve-se procurar se deslocar com cuidado. É preciso ter participação cooperativa entre a população e quem pode oferecer os serviços alternativos. A participação social é importante para que as pessoas se locomovam em horários e condições viáveis e seguras. Uma opção é juntar um grupo de pessoas para compartilharem o veículo de uma forma mais extensiva, pessoas que trabalhem no mesmo prédio, por exemplo. Para a maior parte das pessoas, será necessário sair mais cedo de casa e ter paciência.
Willy Gonzales Taco, professor e especialista em mobilidade urbana da Universidade de Brasília (UnB)
Negocição com a chefia
A greve é considerada um fato que, em princípio, independe de provas. Todos ficam sabendo. Muitas vezes, o patrão fica chateado por acreditar que o funcionário poderia ter conseguido um transporte alternativo. Isso deve ser negociado com o patrão em uma conversa clara. Pode registrar por foto que esteve no ponto e não tinha ônibus. Em princípio, o funcionário está amparado legalmente e não pode ter o ponto cortado, mas não recebe o vale-alimentação e transporte. Para resolver essa questão, é melhor haver transparência entre funcionário e patrão. Há atividades que podem ser feitas de casa. Temos que modernizar a relação de trabalho.
Cláudio Sampaio, advogado especialista em relação trabalhista
Alternativas
Veja quais são as alternativas para o período de paralisação dos rodoviários caso a greve seja confirmada
Metrô — Os trens circularão das 6h às 23h30. Se houver aumento de demanda, a companhia ampliará o horário de pico, quando mais trens circulam ao mesmo tempo.
Uber — Aplicativo pode ser opção para trajetos de longa distância. Contudo, se houve muita procura, o preço da tarifa pode ficar mais caro. Há a opção de viagens compartilhadas com outros clientes.
Cabify — A plataforma estará com desconto de 100% para os clientes, válido tanto para aqueles já cadastrados quando para novas ativações. Das 7h às 17h, o código promocional poderá ser usado em até 2 viagens
Táxi — Melhor para trajetos curtos por conta do preço da corrida.
Carona solidária — Procure saber se colegas terão o mesmo destino que o seu. Compartilhar o carro pode ser alternativa para quem trabalha ou estuda junto.
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