
A história dele se cruza com a de outras pessoas com deficiência, que, mesmo em meio às dificuldades de mobilidade, financeiras, falta de qualificação e até de apoio da família, não se cansam de reafirmar que a deficiência é apenas uma característica e que podem correr atrás do que querem e planejar um futuro cheio de segurança, até mesmo financeira.
Segundo dados da Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, entre 100 e 150 pessoas por mês saem do desemprego com o auxílio dos bancos de oportunidades da pasta. Apesar disso, as vagas sobram devido à falta de preparação profissional de muitos.
O emprego para mim foi uma forma de empoderamento. Eu não tinha tanto apoio dos meus pais. Eles tinham medo de me deixar fazer qualquer coisa. Mas minha vida nunca gerou em torno da deficiência”, afirma Felipe, que preencheu a primeira vaga aos 15 anos, em um escritório, e desde lá não parou.
Apesar do pensamento inicial dos pais, de que ele não conseguiria ter muita independência, o rapaz se tornou fonte de admiração de amigos e família, em especial quando começou a morar só e se virar com as chances que a vida lhe proporcionava. “A deficiência é um impulso para que eu vá mais longe e não uma muleta”, completa.
Há mais de dois anos, o jovem trabalha como analista de recrutamento e seleção em uma empresa que presta serviços para agentes públicos. Foi dessa forma que ele entendeu a importância da capacitação: “Na empresa, temos uma maior taxa de reprovação das pessoas que têm deficiência do que as que não têm. A maioria não é qualificada e perde nisso”.
Felipe está no 7º semestre de Psicologia e deseja para o futuro crescer ainda mais. Quer trabalhar onde se possa ajudar as pessoas.
Felipe está no 7º semestre de Psicologia e deseja para o futuro crescer ainda mais. Quer trabalhar onde se possa ajudar as pessoas.
Superação
Se para Felipe o emprego significou realização, para a sua colega de firma, Carla Karine Oliveira, 34, foi tudo uma possibilidade de superação. Há quase dois meses como representante de atendimento, a mulher não tem saudades do tempo de desemprego. Carla fazia bolos e doces e os vendia como forma de se sustentar desde 2010, quando terminou a faculdade de Segurança da Informação.
Para Carla, apesar das dificuldades, esse não foi o tempo mais difícil da vida. Ela lembra com pesar de quando o carro em que estava capotou quatro vezes e arremessou. Quando acordou, estava no hospital, com cinco vértebras quebradas e paraplégica. A superação era necessária para sobreviver.
Obstáculos de toda forma
Atualmente, a luta de Carla Karine Oliveira é para conquistar espaço no mercado, pois, mesmo qualificada, nem sempre consegue uma oportunidade. O motivo, muitas vezes, é a falta de acessibilidade – apesar das previsões legais.
Colegas de trabalho não cansam de falar que Carla, sempre sorridente e educada, é muito “para cima” e trata todos os clientes como se fossem da família, sem fazer distinção de ninguém – algo elogiado pelos chefes.
A explicação do tratamento é simples: “Eu trato todos com carinho e cuidado porque sei o que é ser maltratada. Tanto dentro de hospital quanto dentro de ônibus. Sei o que é sofrer preconceito”.
A locomoção ainda é difícil. Para completar, os próprios passageiros de ônibus reclamam do “atraso” provocado pelo momento em que o veículo estaciona para pegá-la em segurança.
A locomoção ainda é difícil. Para completar, os próprios passageiros de ônibus reclamam do “atraso” provocado pelo momento em que o veículo estaciona para pegá-la em segurança.
Desafios do empregador
Para Andrea Cunha, diretora de RH da empresa Almaviva do Brasil – onde Felipe e Carla trabalham –, empregar pessoas com deficiência é mais que uma possibilidade de cumprir a cota legal, mas uma questão de responsabilidade social. “A empresa acredita que a causa é importante e tem intensificado a inclusão”, afirma.
Para ela, a maior dificuldade é encontrar pessoas habilitadas para as vagas, pois muitos não conseguem se capacitar. Porém, mesmo assim, busca ir além da cota e fazer com que as pessoas exerçam o poder da cidadania e dar a elas a oportunidade de mostrar do que são capazes. São 30 pessoas com deficiência atualmente na filial de Brasília.
Paulo Beck, coordenador de Pessoas com Deficiência da Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, estima que haja de 35 a 40 mil vagas para pessoas com deficiência e que entre 10 mil a 12 mil pessoas estejam empregadas pela cota.
O coordenador, que é cadeirante desde os 19 anos após um acidente de carro, conhece bem a luta pela entrada no mercado de trabalho e afirma que o caso de Felipe, que não teve apoio dos pais inicialmente, é maior do que se imagina. Ele entende que a família, por um cuidado natural, quer proteger os filhos de todo o jeito. O problema é que muitos não conseguem estudar nem ter experiências importantes a qualquer um devido a esse problema.
Paulo Beck explica que os desafios para o futuro, tanto da secretaria quanto dos deficientes, são: a estruturação social, com maior aceitação das limitações do outro; a formação e a capacitação de pessoal; a adaptação do deficiente ao mundo e vice-versa; e o efetivo cumprimento das leis de cotas. “É preciso conscientizar mais e mais. A deficiência é apenas uma característica do ser, não pode definir a pessoa”, conclui.
fonte:Jornal de Brasília
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